Nesse artigo nossa intenção não é esgotar o assunto teorias de aprendizado, pelo contrário. Queremos apenas discutir alguns conceitos de forma que possam servir de referência para serem aplicados aos seus treinamentos, particularmente quando você estiver fazendo o Design Instrucional. Quando estiver se perguntando sobre o que pode fazer com seus colaboradores para abordar um tema, lembre dessas teorias e se baseie em uma delas, como guia para a próxima ação.
E sim, esse post não é só para Designers Instrucionais. Atualmente, cada vez mais instrutores e gestores de treinamento precisam fazer o Design Instrucional eles mesmos, já quem nem sempre há na equipe alguém especializado ou verba disponível para trazer um parceiro externo (como a Líteris?).
Vale ressaltar que vamos apresentar as teorias separadamente, a fim de explicar melhor cada uma. Porém, designers instrucionais experientes aplicam conceitos dessas teorias de forma misturada em um mesmo treinamento. Use e abuse, à vontade!
Behaviorismo (ou Comportamentalismo)
A referência mais famosa ao behaviorismo no aprendizado é a experiência do pesquisador e prêmio nobel russo Pavlov, que fez aquele famoso experimento com o cão. Ele tocava um sino repetidas vezes na hora de alimentar um cachorro, até que percebeu que, se tocasse o sino apenas uma vez, o cachorro salivava, mesmo sem ver ou receber comida, pois tinha aprendido que este era um sinal de que ele seria alimentado.
Os behavioristas consideram que o aprendizado se dá por estímulos externos e que o aluno é passivo até ser estimulado externamente para reagir. Suas respostas podem ser direcionadas por reforços positivos ou negativos.
A repetição e os feedbacks ajudam a “gravar” o conhecimento quase como um hábito.
Você pode pensar que essa teoria é muito antiquada para as habilidades necessárias no mundo de hoje. Mas lembre-se de que ainda usamos muitos recursos “de antigamente”. Existem funções onde é necessário uma resposta rápida, sem tempo para pensar, ou que existe uma sequência mais rígida de tarefas.
Você deve estar pensando em várias áreas relacionadas a emergências. Sim, são um bom exemplo.
Principais formas de aplicar essa teoria no design instrucional:
- Utilizar repetição, apresentar e exercitar muitas vezes.
- Feedback imediato, positivo ou negativo, para uma associação forte a resposta dada.
Cognitivismo
É a teoria que buscou entender o funcionamento do aprendizado e da memória na mente, e que entende os alunos como processadores de informações. Como o treinando passou a ser ativo, é recomendável orientá-lo em como estudar e fornecer matérias de apoio para ele. Se o treinamento for online, recomende que ele escolha um espaço adequado e que reserve o tempo necessário.
Essa teoria nos ajuda com várias recomendações práticas. Perceba como a base das recomendações tende, de alguma forma, a conectar as informações:
- Conectar as informações novas com as antigas. Essa conexão pode ser feita com facilidade por meio de comparações com os dados que o treinando conhece, ex: um tablet é como um smartphone, só que bem maior. Essas comparações, para um aluno iniciante no tema em questão, funcionam melhor do que uma definição detalhada.
- Apresentar um mesmo conceito de mais de uma forma diferente. Essa abordagem tem vários benefícios: ajuda a compreensão de pessoas de perfis diferentes e aumenta as chances de se conseguir associar com algum conhecimento anterior do treinando.
- Utilizar exemplos associados ao cotidiano que sejam conhecidos pelo treinando.
Aquela tela inicial dos treinamentos que informam: “nesse treinamento você vai aprender”, que você muitas vezes pensou em tirar dos seus treinamentos, tem relação direta com essa abordagem. Acredita-se que preparar a mente para receber e associar as informações ajuda muito na compreensão e memorização. Por isso, o design instrucional baseado nessa visão tende a preparar os treinamentos na sequência conhecida como “bottom-up“, ou seja, do básico para o avançado, de forma bem linear.
Construtivismo
É uma teoria que usa a base do Cognitivismo, mas que o expande. Entende o aprendizado como um processo onde o aluno é ativo e visto como um construtor de informações. Mais filosoficamente, acredita que seres humanos criam significados para as coisas a partir de suas experiências, ao invés de adquirirem de fora, como nas outras teorias citadas.
O objetivo do treinamento, nessa linha, não é de que ele aprenda um fato em particular, como uma definição, mas que ele ele saiba elaborar e interpretar informações. O conhecimento não vem cristalizado em uma definição, mas sim em um estado que evolui constantemente, baseado em novas situações e atividades. Muito interessante, não?
Nesse caso o objetivo é muito importante e, por isso, muitas vezes a sequência tradicional, básico -> avançado acaba sendo modificada. Podemos começar com o problema principal, bem avançado, ou com o resultado que queremos atingir. Isso sensibiliza o aluno, dá um foco. E esse foco que vai ajudar a orientá-lo, a passar pelas partes mais básicas para construir o conhecimento necessário para resolver o problema.
O que podemos aproveitar dessa visão no design instrucional?
Como nesta visão o treinamento não busca entender o “como” fazer uma tarefa, mas sim em realmente “executá-la”. Para isso, é preciso preparar o treinando para aplicar simulações tanto virtuais como presenciais. Aliás, esse é mais um exemplo de aplicação do blended-learning: a preparação para a simulação pode ser feita via EAD e a simulação em si, de forma presencial, em outro momento. Simulação significa emular uma exata situação do trabalho mas, mesmo uma metáfora pode ajudar, pois o colaborador também precisa desenvolver a capacidade de trazer experiências e habilidades de um contexto para outro. Algumas formas de fazer essas simulações são:
- Serious-Games são muito bons para isso.
- Role-play, ou interpretações de personagens, muito usado em treinamento de vendas da indústria farmacêutica.
- Jogos presenciais, como os aplicados pela Experiência Consultoria e pelo Grupo Azevedo Ramirez – GAR (clique aqui e veja o vídeo para entender um pouco mais).
Conectivismo
É uma teoria mais recente (2005) que tem a premissa de que o conhecimento existe no mundo e não apenas nas pessoas. O apelido, “uma teoria de aprendizagem para a era digital”, pegou, mas é meio exagerado. Resumidamente essa visão valoriza as diversas fontes de conhecimento que temos hoje – muitas que não tem o rótulo de educacionais – se tornam fontes de aprendizado.
Mais do que entender essa visão, o importante é saber aplicá-la no contexto correto. O aluno tem um conjunto de perfis, motivações e habilidades diferentes para aproveitar esse modelo. O termo autoaprendizado, ou autodireção, aqui é elevado para um novo patamar. Para aplicar essa teoria no seu design instrucional é necessário identificar o tema, o grupo de pessoas e ter um ambiente propicio para lançar uma ação centrada em conectivismo.
Que teoria usar, afinal?
Design instrucional na Teoria é uma coisa, mas na prática é outra
Como mencionado no início, essas teorias não são caixinhas para limitar suas ideias, pelo contrário, são fontes de inspiração para sugerir caminhos e, principalmente, para destravar ou “desempacar” você quando faltarem ideias de design instrucional.
Certamente alguns conceitos apresentados definem abordagens que você já utilizava, tanto no presencial como no e-learning. Ou que talvez tenham te ajudado a dar mais forma, ou fundamento a alguns feelings que você já teve no dia a dia.
A ideia é essa mesmo! Conhecer as teorias e saber qual é a melhor forma de usar cada uma, quando misturá-las e qual se aplica melhor a cada público e tipo de treinamento.
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Fontes de pesquisa utilizadas nesse artigo:
- Behaviorism, Cognitivism, Constructivism: Comparing Critical Features From an Instructional Design Perspective, Peggy A. Ertmer and Timothy J. Newby
- Julian Rubin, From Pavlov to Skinner Box (charge)
- Connectivism: A Learning Theory for the Digital Age, George Siemens
- Modelos em EAD, Conectivismo – uma nova teoria da aprendizagem, Mooc Ead