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Você já ouviu falar sobre Teoria do Fluxo? Essa teoria foi criada pelo psicólogo Mihalyi Csikszentmihalyi em seu livro Flow: The Psychology of Optimal Experience e é baseada na ideia da motivação intrínseca gerada, basicamente, pelo equilíbrio entre o desafio e a habilidade. É quando um indivíduo encontra-se em um estado de total envolvimento em uma atividade, um alto nível de concentração, o chamado “estado de fluxo”. O sonho de qualquer gestor de treinamento, concorda? Mas como implementar a teoria do fluxo no treinamento online?

“A Teoria do Fluxo é a experiência holística que as pessoas sentem quando agem com total envolvimento” Mihalyi Csikszentmihalyi

Como implementar a teoria do fluxo no treinamento online

De acordo com Csikszentmihalyi, quando uma pessoa está realmente no “fluxo”, ela está, no caso do treinamento online, aprendendo por aprender. Ou seja, o colaborador não está nisso por recompensas externas, ele não treina simplesmente porque não tem escolha, ou para não se indispor com seus gestor. Pelo contrário, inclusive. Em vez disso, ele está tão focado e imerso na experiência do EAD que não permite que as distrações o atrapalhem.

Todavia, assim como não podemos projetar o aprendizado, não podemos projetar o fluxo. No entanto, de acordo com a teoria de Csikszentmihalyi, podemos criar as melhores condições para que isso se desenvolva.

Pensando nisso, a responsabilidade do designer instrucional aqui é justamente ajudar a criar um ambiente online de treinamento com a capacidade de manter o colaborador no canal de fluxo pretendido.

Desta forma, o designer instrucional deve se preocupar em projetar um ambiente que seja fértil para a aplicação das 9 dimensões para a experiência do fluxo. São essas:

1. Concentração

O nível de concentração é um ponto crucial para que o colaborador seja, ou não capaz de atingir o estado de fluxo.

Sendo assim, aqui o foco é na criação de um ambiente online com design clean, objetivo e focado no propósito do treinamento. Um ambiente que não atrapalhe o colaborador, que não distraia do objetivo final, que, portanto, contribua para que o mesmo possa se concentrar no que realmente importa.

É necessário prestar bastante atenção ao layout, as cores que serão utilizadas e à disposição das atividades em geral. Esses detalhes serão fundamentais ao desenvolvimento de um ambiente propício para atingir de nível de concentração necessário para alcançar o estado de fluxo.

2. Experiência autotélica

Já ouviu falar em experiência autotélica? A experiência autotélica é quando a finalidade da tarefa está em si mesma. Ou seja, não há benefício externo para além da conclusão da própria atividade. Sendo assim, a experiência é recompensadora por si só, envolvendo um sentido profundo de apreciação por tê-la concluído.

Como falamos anteriormente, quando um indivíduo atinge o estado de fluxo ele realiza a tarefa pela tarefa. Não existe nada mais importante para ele, naquele momento, do que executar o que está sendo proposto.

Uma forma de criar condições para desenvolver experiências recompensadoras, é construir um ambiente no qual gere curiosidade e promova o real desenvolvimento de novas habilidades e conhecimentos que poderão ser aplicados no dia a dia de trabalho, que facilitarão a vida do colaborador e serão verdadeiramente agregadores. O colaborador precisa ser capaz de enxergar o benefício por trás do que está realizando.

Certamente este é um dos pontos mais importantes, porém delicado. Afinal como fazer para que um colaborador desenvolva por si só interesse intrínseco, algo tão subjetivo, a respeito do e-learning?

Os projetos de treinamento online que visam estimular o estado de fluxo devem se concentrar em atividades que despertam a curiosidade, que provocam a conhecer novas soluções. Pois é justamente a curiosidade que o fará continuar realizando as tarefas para chegar no objetivo final que é a conclusão do treinamento.

Conhecer o público alvo é essencial na teoria do fluxo

Bom, aqui se faz ainda mais necessário o levantamento das necessidades de treinamento e a busca pelo conhecimento dos colaboradores para os quais o treinamento online foi pensado e desenvolvido. Porque somente assim saberá os caminhos para levá-lo ao desenvolvimento de um treinamento que proporcione experiências adaptadas para seu público-alvo.

Por isso é difícil ter resultados excelentes com treinamentos pensados para servir para todos os públicos da organização. Para fazer isso, também o tornamos pouco interessante para todos. Por isso, em temas importantes, é justificado fazer versões específicas do conteúdo para a demanda do setor.

Afinal, é muito mais fácil se interessar em aprender algo que me ajuda no meu problema do que orientações gerais, concorda?

Além disso, outro ponto importante aqui é a realização de uma campanha de comunicação e divulgação do treinamento online para envolver e incentivar os colaboradores e deixá-los preparados e dispostos para a experiência do EAD.

3. Feedback imediato

Quem não gosta de ser reconhecido pelos seus esforços, habilidades, objetivos concluídos e etc? Pois então. O reconhecimento pode ser considerado um dos principais fatores motivacionais em um ambiente de trabalho.
O feedback imediato após a conclusão de uma etapa funciona como o que o Mihalyi Csikszentmihalyi vai chamar de união entre ação e pensamento. Um combustível essencial para se atingir o estado de fluxo.

Sabemos que um feedback positivo ou uma crítica construtiva vindo de um colega e, principalmente, de um gestor, tem grande influência na motivação de um colaborador.

Sendo assim, projetar um treinamento no qual o colaborador tenha acesso a feedbacks imediatos após a conclusão de cada tarefa, que pode ser desde correção imediata do exercício, barra de progresso, até pontuação no estilo gamificação funcionará como uma injeção de ânimo, um reconhecimento dos seus esforços, para que o mesmo continue no caminho do fluxo para concluir todas as suas atividades.

4. Clareza de objetivos

De acordo com a teoria, a falta de um objetivo claro é uma barreira para se atingir o fluxo. Pois aqui o fator principal para desenvolver interesse intrínseco é o colaborador ter a clareza sobre o único objetivo que importa: A conclusão das atividades como recompensa.

Um treinamento, por exemplo, é um projeto um pouco mais complexo e é formado por diversos módulos, pequenas tarefas. Ao fim de cada tarefa o feedback, ajudará a incentivar e a lembrar o colaborador de que ele ainda não alcançou o objetivo final, mas de que está no caminho certo para chegar até ele, até a conclusão de todas as atividades.

5. Aplicação do conhecimento

O colaborador deve se sentir motivado e deve conseguir perceber utilidade das tarefas que está realizando. Sendo assim, o treinamento deve fornecer a possibilidade de os colaboradores colocaram, na atividades propostas, seus conhecimentos e as habilidades que estão sendo adquiridas em prática. Esta é uma forma de deixar, inclusive, a experiência mais prática e objetiva.

6. Ações e consciência se fundem – Autoconsciência reduzida

Com a plena realização das etapas anteriores, é possível que o colaborador seja levado para um estágio de diminuição de senso de consciência. Ou seja, pensamentos, necessidades e objetivos ficam em segundo plano em relação à tarefa. Portanto e ele passa a seguir o fluxo rumo a realização do objetivo estabelecido.

A perda do sentido é justamente uma das principais características quando se entra em estado de fluxo. Pois ele configura justamente o total foco e concentração na atividade que está sendo desempenhada.

7. Distorção do tempo

Quantas vezes você levou horas para desenvolver uma atividade, mas estava tão focado que teve a sensação que se passaram apenas alguns minutos? Aquele pensamento que a hora voou. Pois é, a percepção distorcida de tempo é mais um dos indicadores de que o colaborador se encontra em um estado fluxo profundo

Um estudo do Instituto Kavli descobriu uma rede de células cerebrais que funciona como uma forma de relógio neural e explica como nossa experiência subjetiva de tempo está ligada ao fluxo contínuo de experiência.

“O estudo revela como o cérebro dá sentido ao tempo como um evento vivenciado. A rede de neurônios não codifica o tempo explicitamente. O que medimos foi mais um tempo subjetivo derivado do fluxo de experiências” Albert Tsao, pesquisador do laboratório de Moser, no Instituto Kavli.

8. Equilíbrio entre desafio-habilidade

Você já se perguntou o quão desafiados os seus colaboradores se sentem ao realizarem o treinamento online? Pois aqui este é um questionamento essencial.

Gráfico da teoria do fluxo

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De acordo com o gráfico da Teoria do Fluxo, encontrar o equilíbrio entre desafios e habilidades na hora de estruturar o treinamento é fundamental para desenvolver um ambiente promissor ao movimento de fluxo. Pois se o desafio for muito maior do que a habilidade, pode ocorrer frustração. Mas se o desafio for muito inferior à capacidade/habilidade, pode ocorrer tédio.

Aqui, fica ainda mais claro o quão importante é não só conhecer bem os seus colaboradores, mas também fazer o treinamento focado para um público específico. Pois isso ajudará o designer instrucional a desenvolver um treinamento que seja desafiador na medida certa.

Pessoas são movidas pela combinação de curiosidade e benefícios somada ao quanto se sentem desafiadas a respeito de algo. E essa equação é peça chave para manter seus colaboradores focados e entretidos com as atividades propostas.

9. Autonomia – Paradoxo do controle

Por último, mas não menos importante: O paradoxo do controle.

Os colaboradores devem sentir-se com autonomia para realizar escolhas frente às tarefas a serem realizadas. Sendo assim, dar a ele a possibilidade de fazer a escolha de módulos a serem executados, o desenvolvimento da sua própria meta de desempenho, possibilidade de emitir opiniões e sugerir ajustes são alguns dos exemplos que podem ser colocados em prática na tentativa de criar um ambiente propício para desenvolvimento de um fluxo.

A questão aqui é justamente dar possibilidades de escolha, mas limitando-as até um certo ponto para que o colaborador não saia do caminho do fluxo

A subjetividade da Teoria do Fluxo e outras aplicações

A teoria de fluxo é sobre como cada pessoa é capaz de se conectar, ou não, com uma determinada tarefa. O interesse intrínseco que levará uma pessoa a experienciar o estado de fluxo é, de fato, algo bastante particular a cada indivíduo. Realmente não podemos simplesmente projetar a reação de uma terceira pessoa acerca de algo.

No entanto temos no design instrucional uma ferramenta para direcionar o tipo de experiência que desejamos que o colaborador tenha através de uma atividade. Pois podemos desenvolver um ambiente propício, ou não, a determinadas reações.

Desta forma podemos projetar e construir um meio que estimula o desenvolvimento de uma experiência que, com o tempo, possibilite as condições para que as pessoas alcancem o fluxo por meio da vivência contínua de feedbacks e incentivos positivos.

Contudo, ainda que você não vá desenhar um curso focado para promover o estado do fluxo, as reflexões certamente serão úteis para o desenvolvimento de qualquer outro treinamento.

E você, já pensou em aplicar algumas dessas dicas no treinamento online da sua organização? Compartilhe o resultado com a gente nos comentários abaixo.