É difícil encontrar um profissional que não concorde com a importância do treinamento, mas é uma minoria de empresas que tem treinamento sistematizado, com ciclos constantes de capacitação e avaliação. São diversos motivos, mas um dos motivos de mais peso é a dificuldade de capacitar realmente os colaboradores. Muitos gestores relatam não obter os resultados desejados. Quando restringimos ao treinamento online, o problema é ainda pior. Nesse contexto, o design instrucional emerge como uma abordagem para construir programas de treinamento mais eficazes e engajadores.
O que é Design Instrucional?
Design instrucional é o processo sistemático de criar experiências de aprendizado eficazes e eficientes. Envolve a análise das necessidades dos alunos, a definição de objetivos de aprendizado claros e a elaboração de estratégias didáticas que facilitem a aquisição de conhecimento.
O design instrucional é uma metodologia sistemática para o desenvolvimento de experiências de aprendizado eficazes. Ele se concentra na criação de conteúdo educacional que facilita a aquisição de conhecimentos e habilidades de maneira eficiente e envolvente.
Os princípios fundamentais do design instrucional incluem a análise das necessidades de aprendizagem, o desenvolvimento de objetivos claros, a criação de conteúdo relevante e a avaliação contínua do processo de aprendizagem.
Fundamentos

Fonte: Adaptado de JOHNSON (1989, p.5) apud Filatro (2008, p. 4)
O design instrucional é uma área de conhecimento que construída a partir de princípios de psicologia, comunicação social, tecnologia da informação e administração.
Origem
Durante a Segunda Guerra Mundial, milhares de soldados — muitas vezes pessoas sem qualquer formação militar — precisavam de ser treinados rapidamente. Essa foi a motivação inicial para reunir todos os conhecimentos até então sobre aprendizado, e também incentivou novas pesquisas a partir dai.
O que não é o Design Instrucional?
Um erro comum é pensar no designer instrucional com o profissional “faz tudo” relacionado a treinamento.
O trabalho de design instrucional é associado ao planejamento do treinamento. Portanto, podemos comparar com o engenheiro da construção civil. Assim como na construção temos a equipe além do engenheiro, composta de pedreiros a eletricistas, no projeto de treinamento, com o DI temos o designer gráfico, ilustrador, operador de audiovisual, e outros, conforme a necessidade do projeto.
Claro existem profissionais multidisciplinares, contextos específicos onde o designer instrucional, acaba por realizar todo o projeto, mas é importante entender que a execução não é central metodologia.
Benefícios do Design Instrucional nos projetos de treinamento
Começar um projeto de treinamento sem DI é uma forma de improviso, e às vezes, é claro, o improviso funciona, mas geralmente não muito bem. Investir algumas horas em planejamento é de certa forma fazer design instrucional. Vamos aos principais benefícios. Se você reparar, serão os benefícios que poderíamos identificar em um treinamento de boa qualidade.
Impacto no Engajamento dos Colaboradores
O engajamento um dos principais desafios para o sucesso do treinamento. O design instrucional utiliza técnicas diversas, desde a escolha do conteúdo relevante, a linguagem utilizada e até recursos como a gamificação, como formas de fisgar a atenção e manter os colaboradores envolvidos.
Melhoria na Retenção de Conhecimento
A retenção de conhecimento é também um dos pontos-chave para o sucesso do treinamento. Existem inúmeras teorias de aprendizado que o designer instrucional vai aplicar conforme o perfil e conteúdo para melhorar a retenção. Alguns exemplos são técnicas de associação prévia, repetição, mudança, linguagem, (texto, áudio, imagens), exercícios, analogias, construção pelo aluno e muitos outros.
Aumento da Eficiência do Treinamento
Com as análises do design instrucional, muitas vezes é possível reduzir o tempo de estudo, focando nos conteúdos mais relevantes, ou mudando a abordagem de ensino. A eficiência pode mudar também ao reduzir a necessidade de repescagens ou reciclagens.
E por último, especialmente no treinamento online, o design instrucional pode utilizar da personalização do aprendizado como outra saída para distribuir apenas o conteúdo certo, para a pessoa certa, aumentando a eficiência do treinamento na sua totalidade.
Redução de Custos a Longo Prazo
Embora para organizações que não tem o DI como parte do processo, a etapa de design instrucional pode parecer custo e tempo adicionados no processo, e faz pensar se fazem realmente sentido. Sem hesitar a resposta é sim.
Além do treinamento com mais chances de obter os resultados esperados já é uma redução do risco de perder todo o investimento em um treinamento de má qualidade, o projeto orientado pelos princípios do design instrucional também tende a ter sua construção mais racionalizada. Não é incomum encontrarmos casos de especialistas hiper qualificados atrasando semanas em conteúdos de treinamento por apesar de serem especialistas no tema, não tem caminho claro de como organizar o material.
Integração com Tecnologias Emergentes
As novas tecnologias, como realidade aumentada, realidade virtual, inteligencia artificial, e as próximas que virão, são atraentes por si mesmas, pelo fator novidade, e são um recurso extra para engajar os colaboradores.
Porém, é garantido que a tecnologia em si não traz resultados de capacitação necessários. A correta aplicação é que vai tornar isso possível. O design instrucional é uma ferramenta para dar sentido a novas soluções, garantindo que elas não sejam apenas atrativas, mas também eficazes no alcance de objetivos de aprendizado, alinhando as características das tecnologias às necessidades específicas dos colaboradores e da organização na totalidade.
Como Aplicar o Design Instrucional no Seu Projeto
Podemos dizer que o passo inicial é a identificação de necessidades e objetivos de aprendizado.
Análise de Necessidades
Antes de iniciar qualquer projeto de design instrucional, é crucial realizar uma análise detalhada das necessidades de aprendizagem. Isso envolve a identificação dos objetivos de treinamento, a avaliação do público-alvo e a determinação dos recursos disponíveis.
Desenvolvimento de Objetivos de Aprendizagem
Os objetivos de aprendizagem devem ser específicos, mensuráveis, alcançáveis, relevantes e temporais (SMART). Eles servem como guia para o desenvolvimento do conteúdo e ajudam a garantir que o treinamento atenda às necessidades da organização.
Etapas de Implementação: Fornecer um guia passo a passo mais detalhado sobre como implementar o design instrucional, desde a análise de necessidades até a avaliação final. Isso pode incluir a criação de um cronograma, a definição de marcos e a alocação de recursos.
Modelos de Design Instrucional
Com os objetivos definidos, temos vários modelos para seguir. Vamos apresentar dois modelos bastante distintos.
Modelo ADDIE
O modelo ADDIE é um dos mais populares e consiste em dividir o processo em cinco fases: Análise, Design, Desenvolvimento, Implementação e Avaliação. Ele fornece uma estrutura abrangente para o desenvolvimento de programas de treinamento eficazes.
É um dos processos mais utilizados por ser bem intuitivo, e parecido com os métodos de gestão de projetos tradicionais.
Modelo SAM (Successive Approximation Model)
O modelo SAM, modelo de aproximações sucessivas, é uma abordagem na linha ágil, que enfatiza a prototipagem rápida e a revisão contínua. Ele é ideal para projetos que requerem flexibilidade e adaptação rápida.
Teorias de Aprendizagem de Adultos
Além dos modelos, temos as teorias de aprendizados que podem ser aplicadas em qualquer um dos modelos citados anteriormente, e podem ser misturadas entre si conforme a necessidade do projeto. Abaixo um fragmento sobre cada teoria. Se interessar utilizar essas ferramentas, busque se aprofundar. Abaixo são grandes reduções, insuficientes para embasar decisões de design.
Behaviorismo (ou Comportamentalismo)
Uma das teorias mais antigas e ainda largamente utilizada. Trabalha muito muita repetição com feedbacks positivos e negativos ao aluno para “gravar” o conhecimento quase como um hábito.
É uma abordagem que se encaixa especialmente quando queremos ensinar um comportamento de respostas rápidas e de pouca reflexão.
Cognitivismo
Busca melhores caminhos para ativar a memória e processar informações. Apoia táticas de conectar conhecimentos e de utilizar diferentes abordagens para um mesmo tema e assim expandir a compreensão do aluno. Traz conceitos valiosíssimos para trabalhar a retenção.
Andragogia
A Andragogia é o estudo do aprendizado de adultos, e faz contrapontos com o processo de aprendizagem de crianças, portanto essa linha enfatiza a importância considerar a automotivação, e as experiências anteriores, o colaborador e a aplicação prática do conhecimento. Escrevemos sobre Andragogia: Conceito, Objetivos e Aplicação recentemente.
Construtivismo
Envolve estimular que o aluno crie conhecimentos como meio para estimular o aprendizado. É um processo muito poderoso, e, portanto, requer mais tempo e recursos para desenhar e implementar. Por isso é pouco utilizado em treinamentos online assíncrono.
Em outro artigo, aprofundamos mais sobre as teorias de aprendizado.
Dicas para Avaliar o Design Instrucional
Para avaliar o design instrucional faz sentido tanto uma comparação com os objetivos não mensuráveis numericamente, identificados no início do projeto, mas especialmente os indicadores mensuráveis. A avaliação de reação é um das principais recursos de avaliação, mas métricas de adesão, conclusão, média de notas devem ser também consideradas.
Sempre que o assunto métricas e indicadores surge em treinamento, vale lembrar que uma Plataforma de Treinamento LMS/LXP é principal ferramenta para geração e análise de indicadores de treinamento.
O principal erro ao aplicar o Design Instrucional
Erro mais estrutural, que pode prejudicar o projeto na totalidade, são ligados a falhas de análise do contexto e/ou até ignorar o contexto organizacional.
O DI é um método de planejamento, que naturalmente deve precisa ser adaptado ao contexto específico da organização. Erros de análise das necessidades, ou do público podem levar a decisões incompatíveis com a organização e levar o projeto para o fracasso.
Ferramentas e aplicativos para apoiar o trabalho do Design Instrucional
Documentos produzidos pelo DI, como o plano de estudo ou o storyboard, são documentos basicamente de gráficos e texto. Existem softwares específicos para auxiliar na organização, mas, na prática, o Powerpoint e Word (ou seus similares do Google Workspace) são relevantes quanto.
Especialmente nos estágios iniciais do DI, existem muitas reuniões, então ferramentas de videoconferência, de quadro branco para brainstorm podem auxiliar na captação de informações junto a especialistas no conteúdo e contexto da organização.
Para as avaliações pós-treinamento, as Plataformas LMS podem ajudar com indicadores, além de notas, feedbacks e a avaliação de reação.
Design Thinking apoiando o Design Instrucional
O Design Instrucional (DI) e o Design Thinking (DT), no contexto corporativo, compartilham princípios que podem se complementar significativamente. Ambos colocam o usuário no centro do processo e buscam soluções eficazes para problemas específicos, mas o fazem com abordagens e finalidades distintas.
O Design Thinking pode particularmente ser útil para projetos complexos, nas primeiras etapas do Design Instrucional, no levantamento de necessidades, definição de objetivos e na ideação de propostas.
- O DT começa com a fase de Empatia, sendo altamente compatível com o levantamento de necessidades do DI. Por meio de entrevistas, observações e mapeamento de jornada.
- A fase de Definição do DT ajuda a sintetizar as percepções obtidos na etapa de empatia em declarações claras e focadas no problema. Isso permite criar objetivos instrucionais que sejam mais relevantes e personalizados para o público-alvo.
- A fase de Ideação no DT estimula a geração de ideias inovadoras para resolver os problemas identificados. Para o DI, isso pode significar pensar em formatos diferentes de entrega de conteúdo (jogos, simulações, micro aprendizado, etc.) ou métodos alternativos de engajamento.
Como se Tornar um Designer Instrucional
Durante bons anos dos nossos mais 30 anos na área, não existiam cursos de DI instrucional, assim alguns dos mais antigos na Líteris foram autodidatas, aprenderam com leitura e prática, mas hoje temos opções em níveis diversos
- Pós-Graduações em Design Instrucional
- Cursos Livres
- Materiais gratuitos pela internet.
Além disso, o trabalho do designer instrucional é multidisciplinar, especialmente se for trabalhar com treinamentos digitais, portanto, conhecimentos desde habilidades interpessoais, operação de plataformas LMS, colaboração em documentos, videoconferências são complementos fundamentais para o sucesso nessa atividade.
Conclusão
O design instrucional é a ferramenta chave para trazer resultados positivos para o treinamento. Ele oferece uma abordagem sistemática e estratégica para o desenvolvimento de programas de treinamento que não apenas informam, mas também engajam e capacitam os colaboradores. Ao aplicar o design instrucional, as empresas podem garantir que seus programas de treinamento sejam eficazes, eficientes e alinhados com os objetivos organizacionais. Se você deseja otimizar o aprendizado na sua organização, o design instrucional é o caminho a seguir.